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O professor que levou a disciplina da sala de aula para a Copa da Rússia

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Óscar Tabárez, em coletiva de imprensa. Crédito: AUF/reprodução.

Aos 71 anos, o uruguaio Óscar Washington Tabárez é o técnico mais velho da Copa do Mundo da Rússia. E um dos profissionais mais duradouros à frente de uma seleção: são 12 anos interruptos à frente da Celeste – que nesta sexta-feira (6) se despediu da competição ao ser derrotada pela França nas quartas de final. Seus jogadores e compatriotas chamam-no carinhosamente pelo apelido de El Maestro (“o professor”, em espanhol). Não é por acaso.

No fim da década de 1970, após uma carreira como zagueiro em clubes modestos de Montevidéu e uma breve passagem pelo México, Tabárez pendurou as chuteiras. Não era o que ele gostaria, mas os joelhos o impediam de seguir jogando em alto nível. Para não abandonar de vez o futebol, decidiu arriscar-se na carreira como técnico de uma escolinha de base.

Mas Tabárez tinha 32 anos e três filhos para sustentar – e sua esposa estava grávida da quarta criança (a família tem cinco filhos, no total). Por isso, além de treinar o time infanto-juvenil do Bella Vista, a renda era completada pelo ofício de professor primário em uma escola pública. Na concentração, não era raro encontrá-lo corrigindo provas ou preparando aulas.

“Ele foi professor de escola pública no Uruguai, vem de uma família toda de professores. É um cara muito diferenciado entre todas as pessoas que já conheci. Possui um grande vocabulário e uma cultura enorme”, contou o ex-zagueiro da seleção celeste Diego Lugano, à ESPN.

Em 1983, um chamado inesperado o levou a comandar a seleção de base do Uruguai nos Jogos Pan-Americanos. Voltou com o ouro – e voltou à escola. Ao ingressar na sala de aula, viu escrita no quadro-negro a frase: “Uruguai campeão!”. A cena foi imortalizada em uma foto clássica em que Tabárez está cercado de crianças – a imagem abaixo.

Tabárez na sala de aula ao redor dos alunos: “Uruguai campeão"

Quatro anos depois, El Maestro havia deixado o colégio para fazer história como técnico campeão da Copa Libertadores com o Peñarol, um dos clubes mais populares do país. Em 1988, assumiu ao comando da seleção pela primeira vez, quando disputou a Copa do Mundo de 1990, na Itália. Nos anos seguintes, treinou equipes na Argentina, Itália e Uruguai. Até seu regresso à seleção, em 2006. No total, ele disputa sua quarta Copa do Mundo.

Certa vez, o escritor uruguaio Eduardo Galeano disse que a seleção de Tabárez deu fim a “um período vergonhoso, o da divinização e da demagogia da violência, essa ideia de que o futebol uruguaio deveria ser salvo na base da porrada”. Para isso, El Maestro valeu-se de diversas competências adquiridas nos tempos de professor.

“Ele supervisionava tudo e tinha uma mesma forma de pensar desde a base até o profissional. E, neste processo, ele deu mais importância à formação de seres humanos”, descreve Lugano.

Na primeira fase do mundial da Rússia, por exemplo, o Uruguai foi o time mais disciplinado do torneio: levou um cartão amarelo e cometeu apenas 33 faltas (média de 11 em cada uma das três partidas). Foram três vitórias, cinco gols marcados e nenhum gol sofrido. Uma aula em campo.

Seleção do Uruguai, antes de partida pela Copa da Rússia

Seleção do Uruguai, antes de partida pela Copa da Rússia. Crédito: AUF/reprodução.

Leonardo Pujol
Leonardo Pujol é editor do portal Desafios da Educação e sócio-diretor da República, agência especializada em jornalismo, marketing de conteúdo e brand publishing. Seu e-mail é: pujol@republicaconteudo.com.br

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