Gabriela Vidigal, de 17 anos, sempre teve dificuldade em história. Mas no ano passado, quando cursava o terceiro ano do ensino médio, recebeu ajuda de Tati. E tudo mudou.
Tati indicou videoaulas, montou uma bateria de exercícios nos assuntos em que Gabriela tinha mais dificuldade e ainda elaborou uma rotina de estudos. Ademais, acompanhava a amiga em todos os lugares.
Não podia ser diferente. Afinal, Tati é um aplicativo de smartphone. Desenvolvido pela Conexia Educação, um hub de soluções educacionais do Grupo SEB, o app funciona por meio de computação cognitiva, simulando o atendimento virtual de um ser humano – e auxiliando os jovens a estudar.
Como Tati aprende o que deve transmitir? Através de machine learning – conceito também conhecido por aprendizado de máquina. É o nome dado à capacidade dos softwares de observar grandes quantidades de dados, analisá-los, aprender e transmitir o conhecimento adquirido.
Gabriela e seus colegas do colégio AZ, no Rio de Janeiro, utilizaram a versão beta de Tati. Mas ainda que o aplicativo seja voltado a alunos do ensino médio, poderá ser estendido ao ensino superior.
“Provavelmente com outro nome e outras competências”, diz Reginaldo Gotardo, head de inteligência artificial da Conexia. “A inteligência artificial que vai atuar no ensino superior ainda tem muito o que aprender com a Tati.”
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Utilizando a mesma metodologia de machine learning, a Sagah, ferramenta educacional integrada pelo Grupo A, desenvolveu uma plataforma adaptativa para nivelamento em português e matemática dos alunos do ensino superior.
A plataforma fornece uma lista de exercícios para identificar os principais pontos de carência do aluno assim que entra na graduação.
No nivelamento em matemática, por exemplo, há questões de logaritmo, exponencial e regra de 3. Se o sistema identificar que o aluno não acertou nenhuma das questões de algoritmo, indica vídeos e outros materiais que ajudam o aluno a preencher o gap (veja detalhes nas reproduções abaixo).
“Funciona como um professor que está vendo quais são os problemas de cada aluno”, diz Rodrigo Severo, gerente da Sagah. Tudo isso em uma dinâmica de jogos, em que o aluno vai somando pontos à medida que acerta as questões ou desafia seus colegas.
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Professores não são substituíveis
A tecnologia se adapta e se revela cada vez mais indispensável para a aprendizagem. Ferramentas como Tati, do Grupo SEB, e a da Sagah, no entanto, não surgem para substituir o professor. Elas vêm para agregar.
Ter um professor que saiba explorar o potencial das tecnologias educacionais é um benefício aos alunos que chegam à faculdade. A competência torna as aulas mais atrativas, dinâmicas e eficazes, criando uma aproximação entre discente e docente. Também melhora o desempenho de ambos.
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Para Glauco Cortez, diretor acadêmico do Centro Universitário Moura Lacerda, de Ribeirão Preto (SP), a adoção de tecnologia é algo inevitável. Os novos alunos cresceram envoltos a ela.
“O sistema de ensino atual, como está construído, é desestimulante [para os alunos] porque é uma geração imediatista que não sabe como é um mundo sem internet”, disse Cortez ao portal Desafios da Educação, durante a última edição do Fnesp.
“Esse alunado que chega às universidades, vindo da geração Y e da Z, demanda muito. Eles têm uma forma diferente de entender e aprender”, acrescenta Andrey Lima, diretor executivo da Faculdade Ari de Sá, de Fortaleza.
Celular, aplicativos e inteligência artificial já estão presentes no dia a dia de maioria dos estudantes. É o caso do Pokémon Go, jogo da Niantic que virou febre entre os jovens e que combina geolocalização com realidade aumentada, e a Netflix, plataforma de streaming de séries e filmes que usa inteligência artificial para sugerir títulos que se encaixam ao perfil do usuário.
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“Os jovens esperam encontrar esses aspectos também na universidade”, afirma Arthur Igreja, especialista em inovação e tecnologia e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
É mais fácil e animador para um estudante de Engenharia Civil se ele usar realidade aumentada para ver um modelo tridimensional do seu projeto e identificar ou ajustar qualquer eventual erro. Não é?
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Encontrando a ferramenta certa
Arthur Igreja, da FGV, diz que, ao estruturar um plano de adoção de tecnologia educacional, o primeiro passo é encontrar a ferramenta certa.
“Não adianta apenas recomendar um vídeo no YouTube ou em um site. Tem que ser um processo em que os alunos vão para o online para aprimorar o aprendizado. Tem que ser uma experiência educacional”, defende.
Ferramentas de big data, geralmente instaladas em ambientes virtuais de aprendizagem (LMS, na sigla em inglês), também são fonte de aperfeiçoamento da educação. Elas podem identificar padrões para melhorar notas, servir de subsídio para a criação de plataformas de aprendizado personalizadas e mesmo à integração ao contexto dos alunos nativos digitais.
Para acertar na escolha da tecnologia, é preciso fazer um diagnóstico local, e muito realista, dos objetivos e gaps da instituição, levando em conta se o corpo docente já está adaptado à tecnologia – muitos não estão. A receita que deu certo em outros lugares pode não dar em outros.
Outro passo importante é testar. Alguns professores, ao usar tecnologia na sala de aula, podem se sentir expostos aos alunos. Outros, ao verem os benefícios da tecnologia, tornam-se entusiastas do modelo.
“Nem todo mundo vai gostar da mudança promovida pela tecnologia”, reconhece Igreja. “Mas ela é inevitável.”
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