A inteligência artificial (IA) está – e ficará ainda mais – pervasiva nas salas de aula. É o que mostra o relatório Intelligence Unleashed, elaborado pelo grupo britânico Pearson. Em diversos países, inclusive no Brasil, escolas e universidades investem cada vez mais nas máquinas inteligentes para oferecer a possibilidade de ensino e aprendizagem mais personalizado, flexível, inclusivo e envolvente.
Parte do sucesso da IA tem a ver com seu poder de expandir o ensino adaptativo – ou Adaptative Learning, em inglês. Em reportagem neste Desafios da Educação, explicamos que o modelo de aprendizado adaptativo se refere ao conjunto de ferramentas empregadas para customizar os processos de ensino conforme as particularidades do aluno. Geralmente, trata-se de um sistema baseado em soluções tecnológicas, como softwares e plataformas online. Daí a prevalência dos mecanismos de inteligência artificial.
As vantagens da tecnologia são muitas. “Como assistente virtual, a inteligência artificial na educação contribui para dar velocidade às etapas de retorno e feedbacks aos alunos”, diz Daiana Rocha, gerente de Produção de Conteúdo Digital da SAGAH.
Além disso, as ferramentas permitem que o professor faça uma espécie de mentoria com os estudantes, ajudando-os a progredir e experimentar um ensino adaptado às suas capacidades e às suas necessidades. Já os alunos passam a ter maior condição de autoavaliação de performance e de planejamento do estudo, conforme eventuais fraquezas ou facilidades.
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Algo nesse sentido é feito pelo Open Learners Models, sistema de IA que funciona em algumas instituições de ensino internacionais. A ferramenta apresenta um detalhado desempenho dos estudantes aos professores. Inclui-se no pacote informações valiosas, em geral difíceis de serem percebidas pelo docente em uma turma grande, como o nível de conhecimento e a identificação de metas de aprendizagem adequadas.
O projeto segue a linha de defesa do grupo Pearson, cujo relatório enaltece a capacidade da IA abrir a “caixa preta de aprendizagem”. Quer dizer que a tecnologia pode entregar informações mais refinadas ao docente, como a quantificação da influência de fatores sócio-econômicos e físicos nos alunos. “Esses entendimentos podem ser aplicados no desenvolvimento de futuros softwares de IA e informar abordagens de aprendizado que não envolvem só tecnologia”, descreve o documento.
Exemplos de aplicação da IA na educação
A Saint Paul, uma das maiores escolas de educação executiva da América Latina, com sede em São Paulo, foi uma das primeiras a empregar a inteligência artificial na educação. Em março deste ano, deu mais passo ao lançar a LIT, plataforma integrada ao Watson da IBM. A novidade possui recursos como e-learning e biblioteca virtual, além de Paul, um tutor virtual com capacidade de identificar conteúdos e formas mais adequadas à personalidade de cada aluno. O mesmo Watson deve ingressar em uma disciplina da SAGAH, neste segundo semestre, e em projetos da MindCet, centro de inovação e tecnologia voltado à educação em Israel.
A Fundação Dom Cabral (FDC), de Minas Gerais, é outra que também surfa na onda da IA. No ano passado, a instituição apresentou o Tree Lab, criado em parceria com a IBM e a MRV. O chatbot é capaz de responder dúvidas e fornecer informações sobre atividades e cursos, em texto ou por voz.
Nos Estados Unidos, a Content Technologies Inc. lança mão de ferramentas de big data para ofertar livros personalizados aos alunos. Já a Packback é uma plataforma de aluguel de livros eletrônicos, à la Netflix, que após um aporte recente passou a dimensionar o método socrático de aprendizado e a promover o envolvimento dos alunos em discussões online.
Na Índia, a Mindspark levantou um banco de dados a partir de milhões de avaliações educacionais dos últimos dez anos e começou a auxiliar professores na identificação das necessidades reais dos alunos. A escola Xavier School of Management, também indiana, lançou uma plataforma para simular a aprendizagem virtual em salas de aula com chatbots.
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Os professores são ameaçados pela IA?
Não, os professores não estão ameaçados. Mas estão desafiados a inovar. A tendência da Inteligência Artificial na educação é substituir trabalhos “braçais”. O intelecto humano ainda é muito valorizado para habilidades complexas como o ensino.
“Os professores fazem muito mais do que apenas repassar informações e avaliar o conhecimento dos alunos: eles treinam e orientam os estudantes, identificam e abordam fatores emocionais que afetam a aprendizagem deles e fornecem feedback sobre habilidades humanas, como pensamento crítico, resolução de problemas complexos, comunicação e gerenciamento de projetos”, afirma Thomas Arnett, autor do artigo Teaching in the machine age: How innovation can make bad teachers good and good teachers better, do Instituto Clayton Christensen.
“Dada a necessidade de qualificações que somente humanos podem ensinar, os computadores provavelmente não substituirão os professores tão cedo”, crava Arnett.
Para Rui Fava, sócio-fundador da Atmã Educar, nenhuma aplicação de IA é suficiente para substituir o professor. “O docente nunca será dispensável. Contudo, assim como a Inteligência Artificial está comutando toda ocupação preditiva no mundo do trabalho, na educação a simples transmissão, repetição de conceitos produzidos por terceiros, também será permutada por máquinas inteligentes.”
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