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Por que as universidades de tecnologia aplicada da China ficaram à deriva

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O prédio principal da Tianjin University, localizado no campus em Peiyang, China. Crédito: divulgação.

Por Wei Jing e Anthony Welch*

Aprioridade de tornar a China uma nação inovadora não é nova e resulta de uma estratégia de longo prazo para fortalecer a China por meio da Ciência e Tecnologia (kejiao xingguo), incluindo seus quadros científicos (keji rencai). Por meio dessas políticas, as instituições de Ensino Superior (IES) da China são encarregadas de uma nova missão e significado. Isto se aplica em particular a um novo tipo de IES, as Universidades de Tecnologia Aplicada (yingyong jishu daxue), ou UATs, que foram concebidas para desempenhar um papel significativo no sistema de Ensino Superior da China, especificamente impulsionando a cooperação com a indústria.

Enquanto outros países lutam para mitigar a deriva acadêmica nas universidades de tecnologia, a transformação proposta pela China de mais de 600 IES em UATs, projetadas para cumprir uma missão distinta, é uma reforma imensa.

Diferentemente das universidades de pesquisa, espera-se que as UATs se dediquem ao desenvolvimento econômico regional por meio da cooperação com pequenas e médias empresas locais em projetos de inovação aplicada. Por meio dessa orientação prática, as UATs deveriam cultivar pessoal de alto nível, especializado em inovação aplicada, assim como diversificar o sistema de Ensino Superior da China como um todo.

No entanto, atingir esses objetivos acabou sendo muito mais difícil do que o planejado. Detalhados estudos de caso de políticas e práticas em quatro UATs e aspirantes a UATs de diferentes tamanhos e em diferentes regiões da China revelaram que a meta de colaborar com a indústria local para impulsionar a inovação foi anulada por uma significativa deriva acadêmica, que distorceu a intenção original.

A importância da inovação no ensino superior chinês

As IES da China são há muito tempo importantes motores para a pesquisa e a inovação. O primeiro-ministro Li Keqiang enfatizou firmemente o alto grau de interdependência entre o sistema de inovação nacional e as atividades de investigação científica das IES, como uma força para transformar a China em uma nação inovadora.

Políticas preferenciais foram dadas a empresas inovadoras, IESs e instituições de pesquisa em todas as áreas. Mas o sistema de Ensino Superior altamente estratificado da China garante que universidades e faculdades com um forte histórico de inovação atraiam muito mais fundos e outros recursos.

A produtividade em pesquisa também constitui um importante componente dos rankings universitários; dentro do intensamente competitivo sistema acadêmico chinês, isso dá uma vantagem às melhores universidades da China, que atraem os melhores pesquisadores e cujos graduados são mais procurados pelos empregadores. Enquanto a inovação é uma prioridade nacional e regional, na prática, as IES chinesas estão na mesma corrida, apesar da missão diferencial das UATs de impulsionar a inovação regional através da colaboração com a indústria.

Lógica para estabelecer UATs na China

Mais de 600 faculdades de graduação e universidades (principalmente universidades locais de segunda classe e faculdades independentes) estabelecidas desde 1999 são propostas como o corpo principal da transformação planejada em UAT. Elas agora constituem uma proporção significativa das cerca de 2.600 universidades que concedem graus de bacharel.

Como mencionado, as UATs são uma importante medida para diversificar o sistema de Ensino Superior da China. Em particular, elas são encarregadas de fornecer avançados talentos técnicos e aplicados para atender às necessidades de indústrias em constante mudança. Espera-se também que ajudem a diminuir o grave desemprego estrutural em alguns setores industriais importantes, bem como fortalecer a divisão binária dentro do setor universitário, que com o tempo tornou-se cada vez mais indistinta.

Em comparação com as principais universidades de pesquisa que realizam pesquisa básica e de ponta, as UATs devem contribuir para a inovação não diretamente descobrindo novos conhecimentos, mas aplicando o conhecimento existente à prática e refinando os processos existentes trabalhando com a indústria, um processo inovador que também é projetado para fortalecer a competência do corpo técnico de alto nível das UATs. No entanto, estudos detalhados de UATs revelam uma séria deriva acadêmica, que os desviam de sua missão original orientada para a indústria e baseada no mercado.

Deriva acadêmica nas UATs

A deriva acadêmica refere-se à tendência de faculdades mais novas e especializadas promoverem suas atividades de pesquisa de maneiras que reproduzem as grandes universidades de pesquisa. Uma forma de isomorfismo institucional, o processo muitas vezes significa que o conhecimento aplicado, destinado a ser diretamente útil, gradualmente perde seus estreitos laços com a prática.

Estudos detalhados de várias UATs revelam tal deriva acadêmica. Enquanto o plano original para as UATs era demonstrar inovação por meio da cooperação com empresas e indústrias locais, na prática, isso não está acontecendo. Em vez disso, os professores da UAT dedicam a maior parte de sua energia à publicação e à aplicação de grandes projetos científicos em nível nacional – uma vez que essas conquistas abrem caminho para a promoção.

A deriva acadêmica resulta de processos institucionais vinculados a medidas relacionadas ao desempenho, como estimular a publicação e a participação em grandes projetos nacionais de pesquisa por meio de parcerias com universidades regionais de pesquisa nas regiões médias e ocidentais da China; oferecer recompensas financeiras extremamente altas aos acadêmicos por cada artigo publicado em revistas de alto nível; ou angariar projetos em nível nacional – ao mesmo tempo em que oferece incentivos muito menores para projetos entre universidades e indústrias.

Aliado ao fato de que as UATs são menos competitivas colaborando com as indústrias (que preferem acessar as universidades de pesquisa estabelecidas quando precisam de aconselhamento ou assistência técnica), esses processos contraproducentes levam o corpo docente da UAT a desviar seus esforços de suas tarefas primárias. Ainda assim, quando perguntados, mais de 90% dos entrevistados achava que os artigos que publicavam eram de pouca utilidade e admitia que a maioria dos artigos escritos por eles resultava de copiar e combinar ideias de artigos publicados por outros.

Conclusão

O processo de deriva acadêmica nas UATs destaca uma contradição básica entre política e prática. Em vez de colaborar ativamente com a indústria, utilizando expertise técnica aplicada, eles exibem uma forte inércia organizacional, em grande parte devido a orientações macropolíticas de longa data que priorizam a pesquisa acadêmica. Os rankings de faculdades e universidades, desenvolvidos por entidades governamentais ou não governamentais, pesam fortemente a inovação científica e tecnológica.

A persistência do sistema tradicional de avaliação também recompensa a publicação e a aprovação de projetos. A menos que os formuladores de políticas reconheçam e tenham sucesso em controlar essas tendências, a deriva acadêmica impedirá que as UATs cumpram a sua missão original.

*Escrito por Wei Jing e Anthony Welch, o artigo “Deriva acadêmica nas universidades de tecnologia aplicada na China” está na edição nº 94 da International Higher Education – publicação trimestral do Centro para Ensino Superior Internacional. A tradução é do Semesp.


Sobre os autores

Wei Jing é doutoranda na Escola de Educação, Universidade de Tianjin, China. E-mail: weijing522@126.com. Anthony Welch é professor de educação, Escola de Educação & Serviço Social, Universidade de Sydney, Austrália. E-mail: anthony.welch@sydney.edu.au.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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